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Foto do escritorondakriolu

A emotiva carta de Dino D'Santiago para a atriz e ativista Whoopi Goldberg

Dino D'Santigo foi um dos oradores do Tribeca Festival, que decorreu em Lisboa no último fim de semana, 18 e 19 de outubro. O cantor decidiu ler uma carta que escreveu para a atriz norte-americana Whoopi Goldberg, que também esteve presente no evento, sobre as dificuldades que passou por causa da cor da sua pele. No fim, o cantor recebeu uma ovação de pé do público do Tribeca Festival . Assim reza a carta :

"Querida Whoopi Goldberg, nasci no ventre da escuridão, a cor mais antiga do mundo, a mesma que o céu veste quando todas as luzes se apagam e a humanidade se esquece de si mesma. A cor da noite, da profundidade, daquilo que ninguém quer ver, mas que todos, inevitavelmente, carregam. Cresci sob o peso desse manto invisível, que me foi dado como uma cruz a carregar antes mesmo de aprender a andar. A cor da minha pele era uma sentença antes de eu poder escrever a minha própria história, e o chão que pisava, uma vala aberta onde os sonhos se afundavam lentamente, um por um", começou por dizer.


E continuou :

"Ainda me lembro do cheiro do esgoto, um odor que não vinha do ar, mas das feridas que o mundo nos inflige. Nasci pobre, não apenas de dinheiro, mas de oportunidades, e vivi rodeado por uma miséria que não se lavava com água e sabão. A minha infância foi um acto de sobrevivência nas entranhas de uma sociedade que me cuspia para fora, como se eu fosse o erro, a falha no seu projeto perfeito. E o meu pai, pedreiro, construtor de muros e casas, não tinha as ferramentas certas para me ensinar a erguer a minha própria fundação espiritual. Talvez porque ele também estava ocupado a levantar as paredes que o protegiam da humilhação de existir",

Continuando :

"Vivi, durante muito tempo, como um eco de crenças que nunca ressoaram dentro de mim. Repetia as palavras de outros, não porque as compreendia, mas porque sabia que era o que o mundo esperava de mim. Só Jesus, esse homem da cruz, falava a uma parte de mim que eu não sabia nomear. Mas, quando olhava para o seu rosto nas paredes da igreja, o reflexo não era o meu. A minha pele negra parecia desonrar a imagem do Salvador que me ensinaram a amar. E com isso, cresceu o pecado da comparação, de desejar ser algo que não sou. Aquele Jesus branco não poderia ser meu irmão, pensei. Então, passei a acreditar que o erro era meu, que o fardo do pecado era a minha própria existência".

"Cresci a culpar o mundo, a culpar os meus pais por me terem trazido ao mundo antes que eles soubessem como protegê-lo da pobreza e do medo. O que eu não sabia é que a cor do breu não é um erro, mas uma canção que o mundo ainda não aprendeu a cantar", concluiu Dino D'Santiago.


Depois de terminar, o público não só bateu palmas, como se levantou como forma de apoio ao cantor pelas suas sentidas palavras. A reconhecida atriz norte-americana também se mostrou emocionada.


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