Odair Moniz, de 43 anos, morreu depois de ter sido baleado por um agente. Há uma notícia que diz que era suspeito de furtar um carro, mas o comunicado do Comando Distrital da PSP de Lisboa diz só que era “suspeito” sem dizer de quê. A família garante que seguia na sua própria viatura. A PSP admite que tudo aconteceu “em circunstâncias a apurar em sede de inquérito criminal e disciplinar”.
A noite era de festa mas terminou em tragédia. Por volta das 05:40 de segunda-feira Odair Moniz, de 43 anos, saía do Bairro Alto da Cova da Moura ao volante da sua viatura, depois de ter estado numa festa.
Odair jamais poderá contar sua versão dos factos, mas de acordo com um comunicado da Policia de Segurança de Portugal (PSP), “o suspeito, ao visualizar uma viatura policial" na Avenida da República, na Amadora, fugiu para o interior do Bairro Alto da Cova da Moura. Despistou-se, "abalroando viaturas estacionadas, tendo o veículo em fuga ficado imobilizado".
Quando os agentes abordaram Odair, "o mesmo terá resistido à detenção e tentado agredi-los com recurso a arma branca”, isso de acordo com a versão policial.
Os agentes terão então disparado quatro tiros dois deles para o ar como forma de travar Odair e os outros dois na direção de Odair, que acabou atingido por uma das balas na zona do peito, perto da axila. A vítima foi transportada de urgência para o hospital São Francisco Xavier, em Lisboa, mas não resistiu aos graves ferimentos e morreu pouco depois na unidade hospitalar.
Entretanto o agente da PSP que baleou Odair foi esta terça-feira constituído arguido e a arma de serviço foi-lhe apreendida, disse fonte da Polícia Judiciária (PJ). O agente mantém contudo em funções.
A ministra da Administração Interna determinou, por seu lado, a abertura de um inquérito "com caráter de urgente" sobre este caso .
Quem era Odair Moniz
Tinha 43 anos e, segundo a família, conduzia o seu próprio automóvel e tinha a documentação em dia, ao contrário das primeiras versões colocadas a circular na comunicação social que alegavam que tinha roubado um carro.
A nota da PSP refere-se a ele como “suspeito”, mas não diz suspeito de qué. Natural de Achada Grande, na cidade da Praia,
Odair, também conhecido por Dá di Mena, residia há duas décadas em Portugal onde primeiro trabalhou como cozinheiro e mais recentemente abriu seu próprio negócio, um café em Zambujal, um ponto de encontro para amigos e família. Odair deixa 2 filhos, um de 18 e outro de dois anos. A morte de Odair deixou a comunidade chocada.
Descrevem-no como um homem tranquilo e sempre disponível para ajudar. Segundo os amigos, estava a tentar endireitar a vida, depois de um acidente no trabalho, e foi nesta nova fase, que acabou por morrer. De acordo com familiares, Odair “nunca tinha tido problemas com a polícia antes e que “não era um homem violento .
SOS Racismo condena a morte
O SOS Racismo condenou esta terça-feira a morte de um homem na Cova da Moura após ser baleado pelas autoridades, naquilo que referiu ser "mais um na longa lista de mortos às mãos da PSP".
"Odair Moniz junta-se à longa lista de pessoas negras mortas às mãos da polícia de segurança pública" e a "sua morte acontece num contexto político de exacerbação do discurso de ódio e de um securitarismo estigmatizante dirigido às comunidades negras", refere a associação antirracista, que questiona a justificação da PSP.
Flávio Almada, do movimento Vida Justa, fala em “execução” para descrever o que aconteceu, dando voz ao que ouviu dos moradores da Cova da Moura com quem falou. Almada diz que incidentes como este não podem ser desligados da cultura criada nas chamadas zonas urbanas sensíveis, onde “se constrói uma narrativa de guerra”, com as autoridades a usarem equipamentos especiais para entrar nestes bairros periféricos.
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