A conclusão é do diário português Jornal de Noticias (JN) que, citando fontes judiciais, escreve que imagens de videovigilância atestam que Odair Moniz, 43 anos, não tinha nenhuma faca na mão quando foi abatido por dois tiros por um um agente da PSP (Policia de Segurança Publica) na madrugada de segunda-feira no alto da Cova da Moura, em Lisboa. De acordo com a mesma fonte, uma faca “de dimensões médias” foi apreendida a Odair Moniz, mas estava dentro de uma bolsa que terá sido mais tarde encontrada.
Nos momentos filmados pelas câmaras do sistema de videovigilância de Amadora, que foram analisadas pela Policia Judiciara de Portugal, é possível ver no ar “as mãos vazias” de Odair Moniz.
As imagens de videovigilância contrariam assim a versão oficial da PSP, que, num primeiro comunicado, havia informado que Odair Moniz teria “resistido à detenção e tentado agredir os polícias com recurso a arma branca”.
De resto os próprios agentes envolvidos admitiram à Policia Judiciária que em nenhum momento foram ameaçados por uma arma branca em punho.
A essas contradições acrescentam-se ainda a falsa história do carro roubado e da falta de um motivo real para a perseguição (terá sido inicialmente abordado pelos agentes por ter passado um traço contínuo enquanto conduzia).
Segundo dados da investigação preliminar da Polícia Judiciária, o agente da PSP que matou Odair terá agido num excesso de legítima defesa. O polícia, com 22 anos e menos de dois na PSP, ficou sem o direito ao porte de arma e já foi constituído arguido.
COZINHEIRO E PAI DE FAMÍLIA
Odair Moniz - Dá di Mena - era natural da cidade da Praia mas residia há cerca de duas décadas em Portugal onde trabalhava como cozinheiro num restaurante em Lisboa, embora nos últimos tempos, depois de uma queimadura no trabalho, tenha iniciado seu próprio negócio, abrindo um café em Zambujal, na Amadora, onde residia.
Odair era casado e pai de três filhos, de 19, 18 e 2 anos, e considerado como alguém pacífico e querido pelos vizinhos do Zambujal.
REAÇÕES
A associação SOS Racismo e o movimento Vida Justa contestaram a versão da PSP, exigindo uma investigação séria e isenta por forma a apurar todas as responsabilidades, considerando estar em causa uma cultura de impunidade nas polícias portuguesas.
Segundo a SOS Racismo, a morte de Odair acontece num contexto político de exacerbação do discurso de ódio e de um securitário estigmatizante dirigido às comunidades negras.
O embaixador de Cabo Verde em Portugal, Eurico Monteiro, lamentou a morte de um cidadão cabo-verdiano por um agente da PSP, manifestando a esperança de que a investigação em curso seja rigorosa e que sejam apuradas eventuais responsabilidades.
André Ventura, líder do Chega, acusou o governo português de ser fraco ao lidar com a situação, defendendo o agente de segurança responsável pelos disparos e rotulando de "rascaria" os autores dos desacatos.
TUMULTOS
A notícia da morte de Odair Moniz desencadeou um sentimento de revolta no bairro do Zambujal, com vários moradores considerando que o que houve foram “dois tiros num trabalhador desarmado”.
Para vários habitantes do bairro, Odair era um cidadão exemplar e a explicação da Polícia de Segurança Pública deixou muitas dúvidas.
Os desacatos começaram na noite de 21 de outubro no bairro de Zambujal mas alastraram-se a outras zonsa de Amadora e Oeiras, como Damaia, Cova da Moura e Portela de Carnaxide onde veiculos e caixotes de lixo foram incendiados.
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