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Foto do escritorondakriolu

PRAIA : MIÚDOS MATANDO MIÚDOS

Tiago Leonel Garcia, 17 anos, levou um tiro na cabeça na passada quinta-feira, 13 de junho, na zona do Brasil, em Achada de Santo António, na cidade da Praia. Tiago ainda lutou contra a morte durante 24 horas no hospital da Praia, mas acabou por falecer na sexta-feira, inscrevendo o seu nome na já longa lista de vítimas fatais da violência juvenil na cidade da Praia. De acordo com populares Tiago era “thug” e foi baleado por um outro “thug” da mesma zona.

O governo de Cabo Verde costuma dizer que a criminalidade na cidade da Praia é “cíclica” e após cada “ciclo” apresenta novas medidas para “dilatar os ciclos”, medidas que quase sempre se centram na repressão e no reforço da operacionalidade policial.

As megas operações policiais e as consequentes detenções, amplamente publicitadas, nos bairros mais violentos da capital dão de facto a sensação de paz, mas é uma paz podre, enganadora, já que a violência continua ali latente, podendo eclodir a qualquer momento, matando pessoas e enlutando famílias.


Qualquer cientista social sabe que a violência juvenil não se combate só com repressão, que certamente pode minorar os efeitos mas jamais as suas causas. E são esses mesmos cientistas sociais que apontam para uma agenda publica orientada por uma politica mais estruturante que articule prevenção, repressão e inclusão,


ENTRA-SE CADA VEZ MAIS CEDO NO MUNDO DO CRIME

Mais de metade dos crimes participados contra pessoas e património em Cabo Verde em 2023 foram executadas por menores, e 30% destes por menores de 12 anos.


De resto, em 2023, aumentou em 33% os crimes praticados por adolescentes dos 12 aos 16 anos, sendo os mais frequentes roubos na via pública, ofensas a integridade física e ameaças.


Indivíduos com 21 anos ou menos foram autores de 2.598 crimes participados e 2.775 crianças e jovens foram eles mesmos vítimas, sendo seis delas vitimas mortais (duas crianças de cinco e seis anos quatro jovens entre 15 e 20 anos).


Um desses crimes de homicídio foi perpetrado por um adolescente de 13 anos, assistido por outros três.

Os números são oficais : Resta agora tirar ilações. A primeira é de que muita coisa está a falhar, desde o acompanhamento familiar, passando pelas instituições do estado e da sociedade em geral.


Muitos dessas crianças e adolescentes que entram em gangues e enveredam pelo caminho da delinquência nascem e crescem em “lares problemáticos”, muitas vezes monoparentais, em que a mãe tem que sair cedo de casa para “ir buscar vida” e quando, de repente, ela é confrontada com os vícios ou a violência do filho nem sabe muito bem como reagir. É claro que a mãe - e o pai se for também o caso - devem ser responsabilizados, mas primeiro há que lhes dar as ferramentas - formação - que lhes capacitem a lidar com o problema, e não fugir dele, como muitas vezes acontece.


Muitos desses adolescentes abandonam a escola aos 10 ou 11 anos, apesar do ensino ser obrigatório para os primeiros oito anos de escolaridade. Passam o dia com os gangues na rua, e são nesses gangues que encontram proteção e poder para expressar sua raiva . Ou sua revolta.


E essa revolta é expressa muitas vezes através da violência - tiro ou facada- porque já não sabem lutar com as mãos.


Para eles tudo se resolve com violência, porque é a única linguagem que conhecem. E não sentem arrependimentos. Nem culpa. Não sentem empatia e sempre acham que a vítima merecia o castigo.


PERIGO DE RADICALIZAÇÃO

Se nada for feito, o futuro dessas crianças, jovens e adolescentes será provavelmente o da radicalização, com três cenários a vista : hospital, cadeia ou cemitério, dizem os investigadores.


Para evitar mais dramas terríveis, investigadores sociais propõem várias medidas que privilegiem a ação social, a educação e a mediaçào.


Melhorar o ambiente nos bairros, envolvendo centros sociais, serviços de apoio à juventude, associações comunitárias, atividades culturais e desportivas, escolas, professores, pais e encarregados de educação, policias, todos sào poucos para unir e lutar contra essa calamidade que está a comprometer o futuro de uma geração de cabo-verdianos.

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